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Drugs to improve soldiers abilities? To confuse enemies? Devices controlled by or controlling peoples minds? Will neuroscience provide the weapons of the future? Jonathan Moreno, nationally distinguished bioethicist, discusses the connections between national security and brain research and argues that there is a need to contemplate the ethical, political and social implications of these advances.
A militarização da neurociência
por Hugh Gusterson
Já vimos esta estória antes: o Pentágono interessa-se por uma área de conhecimento da ciência em rápido desenvolvimento e o mundo muda para sempre. E não para melhor.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o campo científico foi a física atómica. Receando que os nazis estivessem a trabalhar na bomba atómica, o governo dos EUA montou o seu próprio projecto relâmpago para lá chegar primeiro. O Projecto Manhatan era tão secreto que o Congresso não sabia o que estava a financiar e o vice-presidente Harry S. Truman não teve conhecimento dele até a morte de Roosevelt o ter tornado presidente. Nesta situação de extremo secretismo, não havia quase nenhum debate ético ou político sobre a Bomba antes de esta ser lançada em duas cidades por uma máquina burocrática em piloto automático.
Apesar das objecções de J. Robert Oppenheimer, alguns cientistas do Projecto Manhatan organizaram uma discussão sobre as implicações do "invento" para a civilização, pouco antes da bomba ser testada. Outra mão cheia distribuiu o Relatório Franck , contra o lançamento da bomba nas cidades sem uma demonstração prévia e uma advertência dos perigos duma corrida ao armamento atómico. Nenhuma das iniciativas teve efeito visível. Acabámos num mundo em que os EUA tinham duas cidades incineradas na sua consciência e a sua perseguição de domínio nuclear criou um mundo de matança nuclear e destruição mutuamente assegurada.
Hoje temos a oportunidade de fazer melhor. A ciência em questão agora não é a física, mas a neurociência, e a questão é se podemos controlar a sua militarização.
Segundo o fascinante e assustador novo livro de Jonathan Moreno, Mind Wars: Brain Research and National Defense , a Agência para Projectos de Investigação em Defesa Avançada tem financiado investigação nas seguintes áreas:
Interfaces cérebro-máquina ("próteses neuronais") que permitirão aos pilotos e soldados controlar armas tecnologicamente avançadas apenas com o pensamento.
"Robôs vivos" cujo movimento pode ser controlado através de implantes cerebrais. Esta tecnologia já foi testada com sucesso em "ratos-robô" e poderá levar a animais controlados remotamente para detecção de minas ou até a soldados controlados remotamente.
"Capacetes de retorno cognitivo" que permitem a monitorização remota do estado mental dos soldados.
Tecnologias de imagens por ressonância magnética ("impressões digitais cerebrais") para usar em interrogatórios ou em detecção (screening) de terroristas nos aeroportos. Bastante distante das questões sobre as suas taxas de erro, tais tecnologias levantariam a questão da possível violação da Quinta Emenda, contra a auto-incriminação.
Armas de vibração ou outros neuro-perturbadores que provocam a confusão nos processos de pensamento dos soldados inimigos.
"Neuro-armas" que usam agentes biológicos para excitar a libertação de neurotoxinas (a Convenção das Armas Biológicas e de Toxinas bane a acumulação destas armas para propósitos ofensivos, mas não para investigação "defensiva" dos seus mecanismos de acção).
Novas drogas que possibilitem aos soldados deixar de dormir durante dias, a apagar as memórias traumáticas, a suprimir o medo ou a reprimir as inibições psicológicas contra o homicídio.
O livro de Moreno é importante, uma vez que tem havido pouca discussão sobre as implicações éticas de tal investigação e a ciência está num ponto suficientemente precoce para que possa ainda ser redireccionada em resposta à discussão pública.
Se for deixada em piloto automático, contudo, não é difícil ver onde tudo isto nos vai levar. Durante a Guerra-fria, medos infundados de uma diferença de capacidade entre as potências, ao nível da posse de mísseis e de técnicas controlo da mente, excitaram um sobre-desevolvimento de armas nucleares e a realização não-ética de experiências involuntárias em sujeitos humanos com LSD. Do mesmo modo, podemos antecipar futuros medos das diferenças de desenvolvimento das "neuro-armas" e esses medos justificarão uma corrida precipitada à investigação (que provavelmente envolverão experiências humanas não-éticas) que apenas estimulará os nossos inimigos a fazer o mesmo.
Os líderes militares e científicos que pagam as "neuro-armas" argumentarão que os EUA são o único país nobre a quem poderão ser confiadas tais tecnologias, enquanto outros países (excepto alguns aliados) não terão esse direito. Vão também argumentar que estas tecnologias salvarão vidas e que o engenho dos EUA irá permitir dominar outros países na corrida às "neuro-armas". Quando for tarde demais para voltar atrás, irão declarar surpresa pelo facto de outros países se terem actualizado tão depressa e por uma iniciativa que deveria assegurar o domínio americano, ter ao invés levado a um mundo onde toda a gente esteja ameaçada pelos soldados químicos e o "robô-terrorismo" saído do Blade Runner.
Enquanto isso, cientistas individuais dirão a si próprios que se eles não fizerem esta investigação outros a farão. O financiamento da investigação será suficientemente dominado por aqueles que concedem as autorizações militares, o que provocará que alguns cientistas tenham de escolher entre aceitar o financiamento militar ou desistir da sua escolha de campo de investigação. E o muito real uso dual destas novas tecnologias (o mesmo implante cerebral pode criar um soldado robô ou reabilitar um doente que sofra de Parkinson) irá permitir aos cientistas dizerem a si próprios que estão "realmente" a trabalhar em tecnologias da saúde para melhorar o destino humano e que o financiamento só por acaso vem do Pentágono.
Mas terá de ser mesmo assim? Apesar dos problemas óbvios de controlo de um campo de investigação que é muito menos capital-intensivo e susceptível a regimes de verificação internacional do que a investigação de armas nucleares, é possível que uma prolongada conversação internacional entre neurocientistas, especialistas em ética e em segurança possam prevenir o futuro distópico acima esboçado.
Infelizmente, no entanto, Moreno (p.163) cita Michael Moodie, um antigo director do Instituto de Controlo de Armas Químicas e Biológicas, quando este diz "As atitudes dos que trabalham nas ciências da vida contrastam fortemente com as da comunidade nuclear. Físicos, desde o início da era nuclear, incluindo Albert Einstein, compreenderam os perigos da energia atómica e a necessidade de participar activamente na gestão destes riscos. Os sectores das ciências da vida estão a atrasar-se a este respeito. Muitos menosprezam a reflexão sobre o risco potencial do seu trabalho".
Já é tempo de começar a conversar! O original encontra-se no Bulletin of Atomic Scientists . Tradução de ACN.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .